Tópicos sobre possibilidades de atendimento para o aluno superdotado na escola

 

 

01.  Como a escola pode atender o aluno superdotado?

 

a)      Com atividades de enriquecimento, na sala de AEE (Atendimento Educacional Especializado)

 

- Atividades de complementação

- Atividades de suplementação

 

b)      Por meio de atividades e ações no próprio horário das aulas regulares

 

- adaptações em atividades e avaliações, para colocar questões no nível dele (caso ele ache desinteressante o nível atual), e para evitar repetições desnecessárias

- realização, pelo aluno ahsd, de exposições temáticas na biblioteca da escola para outros alunos (de séries menores)

- participação em um jornal na escola, favorecendo escrita (como escrevendo matérias e realizando entrevistas), criatividade, socialização, expressividade verbal-corporal, edição digital

- dicas no Insta @athyllas.altashabilidades

- participação do aluno ahsd em olimpíadas de áreas do conhecimento

- não cobrá-lo excessivamente

 

c)      Por meio da aceleração escolar

 

Todo aluno superdotado precisa de um Plano Educacional Individualizado (PEI), documento que irá nortear seu atendimento pela escola!

 

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Vamos a um exemplo de possibilidade de atendimento?!

 

Áthyllas, 09 anos, tem altas habilidades/superdotação. No presente, vivencia diferentes áreas de interesse: países, História, música e informática.

- Como ficaria o atendimento para ele? Só na sala de atendimento educacional especializado (AEE)? Vislumbrar qual área de interesse do aprendente?

 

O professor da sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE), Betim Aprendizagem, trouxe os seguintes pontos para estruturar esse atendimento:

 

 

01.  É possível e benéfico que se considere diferentes áreas de interesse de Áthyllas. É preciso, ressalte-se, que haja organização. Deve haver uma definição, para fins de clareza e organização, de datas e horários para cada área temática.

02.  Há atividades, ações que ocorrerão com enfoque na sala de AEE, no contraturno do período de aula regular do aprendente, e haverá momentos em que pode haver uma articulação entre o atendimento do AEE e o professor regular de Áthyllas. É preciso vislumbrar a articulação, a parceria, para o atendimento não ser um conjunto de ações, atividades isoladas. Isso o fortalece, enriquece! E é benéfico para todos os envolvidos, trazendo especialização profissional, enriquecimento e amadurecimento na vivência do processo de aprendizagem, da prática educativa.

03.  Há ainda a possibilidade de projetos integradores, cujas propostas permitam que se trabalhem diferentes áreas. Exemplo: Um projeto desenvolvido na sala de AEE sobre a música pelo mundo permite a Áthyllas trabalhar a música, países, História (desses países, de estilos musicais em suas origens e relação com contextos históricos), com o aprendente produzindo conteúdo digital sobre isso, em vídeo, áudio, folder, slides... (Informática). Quantos benefícios (!): valorização das aptidões, pesquisa, seleção de informações, planejamento, organização, criatividade, linguagem (escrita/oral/relação entre as linguagens verbal e não verbal), conhecimento em História, criticidade.

 

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02.  A melhor coisa para o superdotado é ser logo acelerado em sua série, não é não?

 

Automaticamente não! A aceleração deve levar em conta também a dimensão emocional do aluno! Às vezes, ela pode ser até um mal para o superdotado. Cada caso deve ser analisado com responsabilidade e carinho.

Importante dizer que pode acontecer de o superdotado passar por aceleração de uma ou algumas disciplinas. Isso nos deixa a lição do quanto precisamos dinamizar nosso processo educacional. A educação é um processo rico e dinâmico.

 

03.  Para receber atendimento na escola, é obrigatória a apresentação de laudo indicando que o aluno é superdotado?

 

Não. A Nota Técnica nº 04/MEC/SECADI/DPEE estabelece isso. Esse documento encontra-se disponível no link a seguir: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=15898-nott04-secadi-dpee-23012014&category_slug=julho-2014-pdf&Itemid=30192.

 

04.  O atendimento na escola visa somente à dimensão acadêmica? Até onde vai a participação da escola no atendimento do aluno com altas habilidades/superdotação?

 

Aqui, precisamos trazer os seguintes pontos:

·         A criança/o adolescente com altas habilidades/superdotação deve ser considerada/o de forma global: dimensão acadêmica, pessoal (âmbitos emocional e comportamental), social. Lembremo-nos que a assincronia no desenvolvimento, sobre-excitabilidades, perfeccionismo, dificuldade em socialização são possibilidades no universo ahsd, e atestam a necessidade de uma visão para além do âmbito acadêmico/cognitivo/intelectual.

·         A escola, espaço privilegiado para a vivência do processo de aprendizagem e para a socialização, tem um papel muito importante na vida de uma criança/adolescente ahsd. Entretanto, encontra limites em sua ação. Três exemplos onde se vê esses limites:

1.    Um aluno ahsd que encontre maiores demandas nas dimensões emocional e comportamental necessita de acompanhamento de um psicólogo. 

2.    Um aluno ahsd que tem junto a família tudo o que quer, sempre; que não tem limite algum em seu comportamento, em suas ações, individual e/ou coletivamente.

3.    Um aluno ahsd que deseje aprender latim, sem a escola ter em seu corpo docente profissional para tal.

- Rede de colaboradores externos.

-- Exemplo: Convidar um engenheiro químico para conversar com alunos superdotados com interesse nessa área.

---Vislumbrar a importância da família nessa responsabilidade.

Vê-se, portanto, que não se pode esperar que a escola faça tudo sozinha! Mas que ela tem um poder extraordinário, tem! O importante, então, é a escola preparar ações, atividades de cunho pedagógico, ou seja, correlatas a objetivos de aprendizagem, competências e habilidades previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e que permitam, também, outros âmbitos, como a socialização. Veremos exemplos de possiblidades.  

 

05.  Conheço um caso de uma menina com altas habilidades/superdotação (ahsd) que passou a se autossabotar academicamente quando começou a ser atendida pela escola porque haviam aumentado demais a quantidade de exercícios e tarefas escritos.  A escola agiu certo, não?!

             Para vivenciarmos um atendimento qualitativo do aluno ahsd, convém trazer Fleith (2007)*:

“(...) Com relação às atividades de enriquecimento, por exemplo, devemos evitar a sobreposição de conteúdos que serão ensinados em séries posteriores, caso contrário, estaremos apenas adiando o problema do desinteresse e da falta de motivação destes alunos. Não podemos, também, sobrecarregar a criança apenas com um grande volume

de tarefas, pois assim ela estaria sendo penalizada por suas altas habilidades.

Outra preocupação, quando pensamos em atividades de enriquecimento, é não privilegiar o conteúdo em detrimento da prática do pensamento crítico ou de enfoques mais originais e aprofundados na abordagem de um problema. Em um programa de enriquecimento, o aluno pode, por exemplo, passar a ter liberdade para escolher os assuntos que deseja estudar, em que extensão e profundidade, permitindo-se ainda a utilização de seu estilo preferido de aprendizagem” (p. 78).

 

“É importante ressaltar, mais uma vez, que os programas devem visar o desenvolvimento global dos alunos. Uma forma de fazer isso é assentar a programação sobre o tripé ‘o que eu sei - o que eu gosto - o que eu quero –‘, procurando evitar algumas das tensões vividas usualmente pelos superdotados, pressionados - seja pelo ambiente, seja por eles mesmos - a manter um desempenho superior constante, numa condição emocionalmente desgastante (Cupertino, 1998)” (p. 79).

 

Agora, fechando as aspas e abrindo análise, discussão: Devemos também considerar o risco de darmos prioridade excessiva a determinada área, conteúdos, privando a criança/o adolescente ahsd de experiências e desenvolvimento em outras áreas, outros conteúdos, aspectos.

Claro que as aptidões são uma realidade, devem ser reconhecidas, valorizadas e instrumentalizadas com vistas à satisfação e ao desenvolvimento da pessoa ahsd, mas devemos ter o cuidado em não superestimular uma área e deixar outras, outros aspectos menosprezados em demasia.

 

Não há fórmula. Mas deve haver um trabalho qualitativo, com bom senso!

 

 

*FLEITH, Denise de Souza (org.). A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação, Vol. 1: Orientação a professores. Ministério da Educação, Brasil, 2007.

06.  Meu filho tem altas habilidades e está com enorme interesse pela 2ª Segunda Guerra mundial. No atendimento, tudo deve ser somente sobre esse assunto? E outros aprendizados que lhes são necessários?

 

O atendimento do superdotado deve considerar suas aptidões temáticas, mas não se limitando a elas; considerá-las, mas fazendo delas pontos de partida para outros saberes que lhes são úteis, necessários. Exemplo: Áthyllas, 08 anos, tem altas habilidades, e a 2ª Guerra Mundial é sua maior aptidão temática no presente. No atendimento educacional especializado, o que podemos (e devemos) trabalhar com Áthyllas:

 

- Escrita: Áthyllas escrever uma reportagem sobre uma determinada batalha ou sobre um país invadido pela Alemanha nazista – Trabalha-se aí a escrita, gênero textual reportagem em seu conteúdo, linguagem, layout; pesquisa e seleção de informações; criatividade, na escrita e em imagens.

- Geografia: Que cidade(s) se localiza(m) nessa região onde aconteceu determinada batalha? Que transformações aconteceram no mapa europeu antes e depois da 2ª Grande Guerra?

- Apresentação da reportagem em estilo radiofônico, um dos principais meios de informação da época, trabalhando a oralidade e seus recursos de expressividade (aliando fala, estética e funcionalidade da mensagem).

- Ciências: Qual o aparato científico-tecnológico envolvido nessa guerra? Que avanços científicos, tecnológicos aconteceram a partir da 2ª Guerra Mundial? Vamos refletir sobre o uso da ciência e da tecnologia para o bem das pessoas, do mundo.

 

É fundamental pontuar também que o atendimento se preocupe em oportunizar ao superdotado diferentes áreas e temas, sem ser de forma forçosa, para que ele possa alargar seus horizontes, enriquecer-se no universo do Saber, em suas capacidades; conhecer e descobrir possíveis aptidões. Joseph Renzulli, famoso psicólogo norte-americano que é um ícone na temática das altas habilidades/superdotação defende a oferta de variabilidade no universo do Saber ao superdotado e a todos os aprendentes, aliás. Para saber mais sobre essa perspectiva defendida por Renzulli, vide:

 

1.         Documento disponibilizado pelo Ministério da Educação (MEC) http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashab1.pdf, a partir da página 63, tópico “enriquecimento”.

2.         “Modelo de enriquecimento para toda a escola: Um plano abrangente para o desenvolvimento de talentos e superdotação”, de Joseph Renzulli. Disponível em https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/14676/pdf.

 

07.  Poderia trazer alguns exemplos de atividades, ações para o atendimento de alunos com altas habilidades/superdotação (ahsd) na escola?

 

Sim. Ei-los:

08.  Essas ações, atividades de atendimento devem ser organizadas em algum documento?

O aluno com altas habilidades/superdotação (ahsd) precisa de um Plano Educacional Individualizado (PEI), documento que irá organizar, nortear o atendimento às suas necessidades, clarificando o que será feito, com que estratégias, quando e quem vai participar. Assim, teremos ações, atividades articuladas na perspectiva de um desenvolvimento efetivo e contínuo, e não meramente como fins em si mesmas.

09.  Áthyllas, você falou sobre a participação da BNCC como importantíssimo instrumento na organização do atendimento do aluno com altas habilidades/superdotação. Poderia falar mais sobre isso?

 

 

 

Veja...

            I – Perfil do aluno, suas aptidões, capacidades, dificuldades, necessidades.

            II – Levar o eixo I para analisar com base na BNCC: O que a BNCC coloca como objetivos de aprendizagem, competências e habilidades para as diferentes etapas da educação básica? Como meu filho superdotado está? Para onde ir? Como fazer para percorrer esse caminho?

 

 

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