Processo de identificação educacional de altas habilidades/superdotação iniciando com psicopedagogo - Criança

 

Processo de identificação educacional de altas habilidades/superdotação iniciando com psicopedagogo

Criança

Etapas e procedimentos

Plano de ação(ões) para o(a) aprendente ____________________, ____  anos.

Antonio Áthyllas Lopes de Oliveira

Psicopedagogo

athyllas.lopes@hotmail.com

 

Ipu-CE, ___ de ________ de 20____

 

Antes de tudo, pra que fazer essa identificação? A que ela visa?

Vamos lá!

·         Conhecer melhor a criança e seu processo de aprendizagem, reconhecendo, valorizando e desenvolvendo suas capacidades (reconhecendo e trabalhando suas limitações), visando a seu bem-estar e desenvolvimento, nos âmbitos pessoal, acadêmico, social, conforme a(s) área(s) de altas habilidades/superdotação.

·         Comunicar à escola - espaço primordial para a aprendizagem se expressar, (re) construir-se e desenvolver-se o perfil e as necessidades do aluno, para um devido processo de aprendizagem, bem-estar e desenvolvimento da criança a partir dela, nos âmbitos pessoal, acadêmico, social, conforme a(s) área(s) de altas habilidades/superdotação.

·         Providenciar para a criança enriquecimento curricular via complementação e/ou suplementação, por seu bem-estar e desenvolvimento, nos âmbitos pessoal, acadêmico, social, conforme a(s) área(s) de altas habilidades/superdotação. 

I – Contato inicial para a exposição do quadro de suspeita de altas habilidades/superdotação. Enquadramento por parte do psicopedagogo.

- O psicopedagogo deve atentar para os aspectos positivos e negativos da criança, não tomando apenas como referência a dimensão acadêmica/escolar.

Não focar apenas os aspectos positivos, pois, assim, limita-se (!) a qualidade da avaliação.

- O enquadre organiza, propicia clareza, segurança e, portanto, qualidade.

- “Enquadrar, em Psicopedagogia, não significa cercear, e sim criar referências com o objetivo de facilitar a avaliação, e a reorganização da ação, sem se misturar com o movimento já existente na instituição” (BARBOSA, 151, p. 51).  

- O enquadre delimita a abordagem pelo psicopedagogo: o caminho a ser percorrido. Isso favorece o planejamento de ação, o como fazer para se chegar aonde se quer chegar.

- Não se se exceda nas explicações, pois há o risco de que a família, professor(a)(es), coordenação, direção da escola, sabendo demais sobre a operacionalização da avaliação, artificialize(m) o processo, não permitindo a coleta de dados/informações em sua naturalidade, concretude, que é o que interessa ao psicopedagogo avaliador.

- Não prometa resultados! O processo de aprendizagem não depende apenas de você!

* Quem? Psicopedagogo. Avaliar dados, informações coletados com psicólogo (ênfase ao neuropsicólogo, que conheça a temática das altas habilidades/superdotação). 

II – Coleta de possíveis características de altas habilidades/superdotação.

1. Checklist de Lima (2008). Em anexo.

- Realizar com a família e com professores (do ano letivo atual e do ano anterior: avaliar se houve mudança em função dos fatores metodologia pedagógica e empatia/afetividade docente).

2. Indicadores do material do MEC Projeto Escola Viva, 2002 (acervo deste proponente). Em anexo.

- Realizar com a família e com professores (do ano letivo atual e do ano anterior: avaliar se houve mudança em função dos fatores metodologia e empatia/afetividade docente).

3. Consideração do artigo Contribuições da Teoria da Desintegração Positiva para a Área de Superdotação, de Oliveira, Barbosa e Alencar (2015). Contribuições desse artigo já estão compondo material disposto em anexo.

* Quem? Psicopedagogo. Avaliar resultados com psicólogo (ênfase ao neuropsicólogo, que conheça a temática das altas habilidades/superdotação). 

III – Conhecimento das seguintes dimensões:

- Comportamento/emocional.

- Cognição.

* Quem? Psicólogo (ênfase ao neuropsicólogo, que conheça a temática das altas habilidades/superdotação).  

IV – Avaliação psicopedagógica.

1.    Seguir as seguintes etapas-padrão do processo de avaliação psicopedagógica: EOCA e caixa lúdica, provas operatórias, técnicas projetivas, outros testes (para conhecer mais e melhor, dirimir dúvidas, ter maior e melhor clareza quanto a impressões, possibilidades levantadas), anamnese.

 

- Quem é a criança, do que gosta, como aprende, o que sabe fazer, como faz, potencialidades e limitações...

2. Proposta de atividades. Oferecer diferentes materiais e propostas, de forma que a criança fique à vontade para externar sua aptidão e produzir nela: jogos, desafio, desenho, pintura...

- A criança pode sugerir. O psicopedagogo deve, porém, ter o cuidado para que não haja uma negativa predileção absoluta na temática, na forma de sua vivência e na forma de produção nela. Sensatez. Nem impor ditatorialmente, nem permitir nessa etapa um caminhar livre, sem rumo, sem funcionalidade qualitativa. Pretende-se sim que a criança tenha oportunidade de mostrar aptidões, capacidades e dificuldades a partir de atividades.

3. Proposta de uma atividade/ação específica de maior empreendimento intelectual/criativo/de tempo, para analisar como produz, se persiste... Proposta vinda do psicopedagogo e/ou do próprio aprendente.

- Registro em portfólio. Avaliar, nele, percurso (etapas, momentos-chave), como foi vivenciado, atividades/ações, instrumentos, modos de operacionalização, resultados.

Importante!

 

*A criança apresenta traços indicativos de altas habilidades/superdotação na área acadêmica. Tem um nível de leitura muito avançado, faz reflexões profundas, estabelece conexões muito pertinentes e interessantes com as ideias, mas na hora de dar um corpo material a isso tudo, falta-lhe maior habilidade, parece que suas capacidades de organização, planejamento, concentração na construção desse “produto final” não são tão ágeis para fazer logo essa materialização acontecer. Isso basta para descartar a possibilidade de altas habilidades/superdotação?

Devemos ter cuidado com a pressa em ver um produto “pronto” que “comprove” a superdotação.

É preciso que a avaliação seja rica, dinâmica, multifacetada, com um olhar cuidadoso, capaz de vislumbrar o processo de aprendizagem em sua ocorrência:

 

*Que elementos configuram esse processo?

*Que processos acontecem nele?

*Como acontecem, como são vivenciados?

*Por quê?

 

Aí sim, depois de se considerar essas questões, que conferirão toda uma qualitativa contextualização, compreensão e ação, atentar para o “produto”, não como cobrança de que haja um, mas como ponto de reflexão sobre sua (não) existência, produção.

*Uma criança com altas habilidades/superdotação pode mudar de área(s) de interesse. Começar, por exemplo, com forte interesse na área de linguagem (querendo aprender russo, por exemplo) e mudar seu enfoque para biologia (querendo estudar o corpo humano, por exemplo). Se essa criança estiver numa fase de transição, como podemos esperar um “alto desempenho” em linguagem e/ou biologia? E aqui cabe ressaltar a importância da dimensão subjetiva, da motivação, por exemplo, o que, aliás, contribui para uma compreensão e vivência mais qualitativa das altas habilidades/superdotação para além de conhecimento cognitivo, mas como numa dimensão global da vida da criança.   

Tudo isso não para gerar qualquer rótulo, mas para conhecer a pessoa em seu perfil, capacidades, limitações, necessidades, possibilidades.

-- A criança como protagonista.

4. Como parte da anamnese, perguntar se a criança já foi avaliada por outro(s) profissional(is), e, em caso afirmativo, solicitar laudo(s)/parecer(es), para substanciar qualitativamente a avaliação.

* Quem? Psicopedagogo. Avaliar dados, informações com psicólogo (ênfase ao neuropsicólogo, que conheça a temática das altas habilidades/superdotação). 

V – Análise de produções acadêmicas e espontâneas.

* Quem? Psicopedagogo e psicólogo (ênfase ao neuropsicólogo, que conheça a temática das altas habilidades/superdotação). 

VI – Entrevista com professores (como é o comportamento, desempenho na escola, interesses...), pais/família (comportamento em casa, em ambientes sociais, o que produz...) e com outras pessoas que acompanhem a vida da criança, como professor de reforço, treinador esportivo, pessoas que trabalham na escola e a conhecem, como porteiro, merendeira, zeladora (como é o comportamento, desempenho na escola, interesses...).  

- Pode-se contar com vídeos, fotografias.

* Quem? Psicopedagogo e psicólogo (ênfase ao neuropsicólogo, que conheça a temática das altas habilidades/superdotação). 

VII - Relatório final produzido e assinado conjuntamente pelo psicopedagogo e psicólogo participantes da identificação. 

- Características da criança, suas capacidades, limitações/dificuldades, dimensões emocional e social (relacionamento com outrem).

- Tem altas habilidades/superdotação ou não.

- Se tem altas habilidades/superdotação, indicar em que área(s).

--Área(s) pela(s) qual(is) se interessa/na(s) qual(is) se destaca/revela potencial (lembrando que isso pode sofrer variação com o tempo).

- Etapas vivenciadas e instrumentos utilizados no processo de identificação de altas habilidades/superdotação e seus resultados.

- Encaminhamentos: à escola (indicação da necessidade da elaboração de um Plano Educacional Individualizado, ver as possibilidades de enriquecimento curricular, aceleração...), à família, a outro(s) profissional(is), se for o caso.

 

***

O ideal é que a identificação de altas habilidades/superdotação seja feita de forma multiprofissional, articulando psicólogo, psicopedagogo, professores, e considerando diferentes dimensões, não somente testes de QI (!): o comportamento da pessoa em processo de identificação (não apenas no âmbito escolar), a família, a escola, o que ela produz...

***

 

 

·         Aspectos fundamentais a serem observados:

O atendimento às necessidades decorrentes da condição de altas habilidades/superdotação não deve visar a:

-  Cobrar excessivamente as crianças.

- Torná-las adultas precoces.

- Valorizar e desenvolver apenas uma área de interesse da criança, privando-a de outros saberes que lhes são necessários.

***

Se o processo de identificação fizer levantar a suspeita de outras condições, como TDAH e autismo, deve-se sugerir encaminhamento a profissional(is) devidamente habilitado(s), conforme o caso. Se houver essa suspeita, indicá-la no relatório final.

 

 

 Materiais norteadores

 

BARBOSA, Laura Monte Serrat. A psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente, 2001.

BRASIL, Ministério da Educação. Projeto Escola Viva – Garantindo o acesso e a permanência de todos os alunos na escola – Alunos com necessidades educacionais especiais – Identificando e atendendo as necessidades educacionais especiais de dos alunos com altas habilidades/superdotação. Brasília, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Especial, 2002.

BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 4ª ed. Wak Editora; Rio de Janeiro, 2011.

FLEITH, Denise de Souza (Org). A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação. Volume 1: Orientação a professores. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007.

__________________________. A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação. Volume 2: Atividades de estimulação de alunos. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007.

__________________________. A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação. Volume 3: O aluno e a família. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007.

LIMA, Denise Maria de Matos Pereira. A identificação e inclusão do aluno com altas habilidades/superdotação na rede pública de ensino do estado do Paraná: orientação par professores. Disponível em http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1075-2.pdf. Acesso em 07 de julho de 2020.

OLIVEIRA, Juliana Célia de; BARBOSA, Altemir José Gonçalves; ALENCAR, Eunice M. L Soriano de. et al. Contribuições da Teoria da Desintegração Positiva para a Área de Superdotação. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/ptp/v33/1806-3446-ptp-33-e3332.pdf. Acesso em 21 de julho de 2020.

VIRGOLIM, Ângela M. R. Altas habilidade/superdotação: encorajando potenciais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007.

VIRGOLIM, Ângela Mágda Rodrigues. A contribuição dos instrumentos de investigação de Renzulli para a identificação de estudantes com Altas habilidades/Superdotação. Disponível em https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/14281. Acesso em 07 de julho de 2020.

Comentários